26 de novembro de 2016

Psicofonia consciente

"É alguém a movimentar-se nas trevas de si mesmo, trazido ao recinto sem saber o rumo tomado pelos próprios pés, como qualquer alienado mental em estado grave. Desenfaixando-se da veste de carne, com o pensamento enovelado à paixão por irmã nossa, hoje torturada enferma que sintonizou com ele, a ponto de retê-lo junto de si com aflições e lágrimas, passou a vampirizar-lhe o corpo. A perda do veículo físico, na deficiência espiritual em que se achava, deixou-o integralmente desarvorado, como náufrago dentro da noite. Entretanto, adaptando-se ao organismo da mulher amada que passou a obsidiar, nela encontrou novo instrumento de sensação, vendo por seus olhos, ouvindo por seus ouvidos, muitas vezes falando por sua boca e vitalizando-se com os alimentos comuns por ela utilizados. Nessa simbiose vivem ambos, há quase cinco anos sucessivos, contudo, agora, a moça subnutrida e perturbada acusa desequilíbrios orgânicos de vulto. Por haver a doente solicitado nosso concurso assistencial, somos constrangidos a duplo socorro. Para que se cure das fobias que presentemente a assaltam como reflexos da mente dele, que se vê apavorado diante das realidades do espírito, é necessário o afastamento dos fluidos que a envolvem, assim como a coluna, abalada pelo abraço constringente da hera, reclama limpeza em favor do reajuste.

Mais adiante, depois desse esclarecimento inicial, Áulus explicou, prestimoso:

- “É o fenômeno da psicofonia consciente ou trabalho dos médiuns falantes. Embora senhoreando as forças de Eugênia, o hóspede enfermo do nosso plano permanece controlado por ele, a quem se imana pela corrente nervosa, através da qual estará nossa irmã informada de todas as palavras que ele mentalize e pretenda dizer. Efetivamente apossa-se ele temporariamente do órgão vocal de nossa amiga, apropriando-se de seu mundo sensório, conseguindo enxergar, ouvir e raciocinar com algum equilíbrio, por intermédio das energias dela, mas Eugênia comanda , firme, as rédeas da própria vontade, agindo qual se fosse enfermeira concordando com os caprichos de um doente, no objetivo de auxiliá-lo. Esse capricho, porém, deve ser limitado, porque, consciente de todas as intenções do companheiro infortunado a quem empresta o seu carro físico, nossa amiga reserva-se o direito de corrigi-lo em qualquer inconveniência. Pela corrente nervosa, conhecer-lhe-á as palavras na formação, apreciando-as previamente, de vez que os impulsos mentais dele lhe percutem sobre o pensamento como verdadeiras marteladas, pode, assim, frustrar-lhe qualquer abuso, fiscalizando-lhe os propósitos e expressões, porque se trata de uma entidade que lhe é inferior, pela perturbação e pelo sofrimento em que se encontra, e a cujo nível não deve arremessar-se, se quiser ser-lhe útil. O Espírito em turvação é um alienado mental, requisitando auxílio. Nas sessões de caridade, qual a que presenciamos, o primeiro socorrista é o médium que o recebe, mas, se esse socorrista cai no padrão vibratório do necessitado que lhe roga serviço, há pouca esperança no amparo eficiente. O médium, pois, quando integrado nas responsabilidades que esposa, tem o dever de colaborar na preservação da ordem e da respeitabilidade na obra de assistência aos desencarnados, permitindo-lhes essa manifestação não colida com a dignidade imprescindível ao recinto.

- Então – alegou Hilário -, nesses trabalhos, o médium nunca se mantém a longa distância do corpo...

- Sim, sempre que o esforço se refira a entidades em desajuste, o medianeiro não deve ausentar-se demasiado... Com um demente em casa, o afastamento é perigoso, mas se nosso lar está custodiado por amigos cônscios de si, podemos excursionar até muito longe, porquanto o nosso domicílio demorar-se-á guardado com segurança.”


Mais um pouco...

"Consciente a médium, qual se encontra, e ouvindo as frases do comunicante, que lhe utiliza a boca assim vigiado por ela, é possível que Dona Eugênia seja assaltada por grandes dúvidas... Não poderá ser induzida a admitir que as palavras proferidas pertençam a ela mesma? Não sofrerá vacilações?

- Isso é possível – concordou o assistente -; no entanto, nossa irmã está habilitada a perceber que as comoções e as palavras desta hora não lhe dizem respeito.

- Mas... e se a dúvida a invadisse? – insistiu meu colega.

- Então – disse Áulus, cortês -, emitiria da própria mente positiva recusa, expulsando o comunicante e anulando preciosa oportunidade de serviço. A dúvida, nesse caso, seria congelante faixa de forças negativas..."



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Do livro Nos Domínios da Mediunidade, André Luiz, psicografia de Francisco Cândido Xavier.


Leia também: https://aprendizadoespirita.wordpress.com/2009/08/20/psicofonia/

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