Um padre vestido de longa túnica marrom, tal qual um franciscano, caminha à beira da praia, descalço. Tem à sua mão a pequenina mão de uma criança.
Caminham longos tempos em silêncio, chutando conchas ora para o continente, ora para o mar.
Súbito, a criança pergunta ao sacerdote:
- padre, para que serve toda esta água?
- filho, disse-lhe o sacerdote, estas águas são parte da vontade de Deus para que possas viver em equilíbrio. A água faz parte da natureza para que possas caminhar e, sob calor, banhar-se, refrescar-se. Esta água serve também como caminho para outras partes. Esta água serve para manter vivos organismos que sobrevivem a partir do alimento que contêm. Esta água serve para que possa ser extraído o alimento que manterá vivos não só aquele que trabalha para retirá-lo como também aqueles que dele necessitam como alimento. Filho, se todos tivessem consciência do que podem representar estas águas, teriam mais carinho com ela de forma a não poluí-las. Estas águas deveriam manter-se limpas para maior benefício da humanidade.
Mais tarde, com os pés descalços, cobertos de areia, caminharam até encontrar uma mata densa. Novamente o menino, entre árvores e outras manifestações da natureza perguntou ao sacerdote:
- padre, para que servem as matas?
- ora, meu menino, as florestas também têm funções semelhantes aos mares.
Desta mesma forma têm a missão de alimentar não só aquele que dela retira parte do seu corpo, mas também aqueles que necessitam de suas partes para se alimentarem.
E assim, caminhando juntos, pararam de repente. Olhando para o céu o menino tornou a perguntar para o sacerdote:
- padre, para que serve o ar?
- já imaginaste se não houvesse ar para respirares? Seria muito incômodo te manteres vivo desta forma. Por isto o Pai criou o ar, o mar e as florestas, para o sustento e para fornecer os alimentos necessários ao homem.
Ainda assim, resta a mais importante função do "céu". Servir de caminho de retorno para teu espírito para a eternidade.
E assim, retornaram a Espiritualidade...
Texto publicado no livro: Histórias da Roça - 1ª edição - 2003
pelo espírito: Monteiro Lobato
na Casa de Catarina - RJ
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